A transição capilar é só o começo…
Cresci numa casa com 5 irmãs. No natal, minha mãe quis ajeitar nosso cabelo e, em casa, passou duas químicas que não eram compatíveis.
E foi nesse dia que eu tive meu primeiro corte químico. Estava triste, uma parte de mim tinha acabado de ter arrancada. Pelo menos é o que senti no momento, afinal eu era pré adolescente e nossos cabelos são tão parte da nossa imagem que um momento como esse é realmente doloroso.
Big Chop
Logo após o corte químico fiz um BC (grande de corte). Nunca tinha visto meu cabelo curto daquele jeito. Me senti mal, com vergonha de sair de casa. Na aquela época, mais do que hoje, as pessoas não aceitavam bem meninas de cabelo curto, e principalmente meninas crespas de cabelo curto.
Além do mais as aulas estavam chegando e eu teria que ir para a escola me sentindo daquela forma.
A feliz descoberta das tranças
Minha mãe sempre trançou nosso cabelo, mas nesse dia, véspera do primeiro dia de aula, ela não pode fazer. Foi então que, com meus 12 anos de idade, aprendi a colocar tranças sozinha. E as tranças trouxeram com elas uma parte da minha autoestima de volta – afinal ainda tinham outros fatores, outras formas de pressão estética que pesavam sobre mim na época.
Passar por um período de transição não é fácil. A transição é movimento, e movimento é mudança. E a mudança quase sempre nos apavora. Principalmente se temos de passar por estas mudanças sozinhas. Mas essa mudança é na direção do nosso próprio eu, na direção do autoconhecimento e da autoaceitação.
Enquanto meu cabelo crescia, protegido e acolhido dentro das tranças, eu conhecia uma parte de mim. Uma parte que sempre tentei impedir de florescer, mas que me surpreendeu com toda a sua beleza – esta parte era o meu cabelo natural.
Por todos os motivos que citei, e por muitos mais que levariam dias para mencionar, passar pela transição “desprotegida”, digo, sem tranças, seria muito mais difícil. Por isso sou grata aos meus ancestrais e avós que nos deixaram este presente, esta forma de nos dar poder e autoestima enquanto uma parte de nós está protegida e crescendo só esperando para nos surpreender com sua beleza e movimento.